Por precaução, a partir do meio dezembro, Vanclécio de Lima costumava separar caixotes de cerveja na sua lanchonete da avenida Domingos Olímpio. Ao contrário do que se imagina, o destino não era recolher os recipientes já usados. As caixas serviam de aparato para evitar que forno e freezer ficassem encharcados pelas águas que invadiam a lanchonete a cada chuva forte. Cada começo de ano, era de desespero. Até 2011. Pela primeira vez, ele não precisou do cuidado.
“A água batia aqui, ó”, aponta o joelho Vanclécio e completa: “Essa obra aí demorou, mas trouxe coisa boa, Graças a Deus, foi uma bênção”, conta, satisfeito, enquanto passa o troco de um cliente. As obras a que ele se refere foram as do Programa de Transporte Urbano de Fortaleza (Transfor), que já foram iniciadas, entre outras, nas avenidas Mister Hull, Bezerra de Menezes, Sargento Hermínio, Humberto Monte, Luciano Carneiro e 13 de Maio. Os locais em que as intervenções já chegaram ao fim, não apresentaram mais alagamentos.
Saía de casa apreensivo toda vez que não enxergava nenhuma estrela no céu. “Pensava sempre: quando voltar, não vai restar mais nada”, conta o trabalhador noturno, Reginaldo Rebouças, 37, zelador de uma empresa do ônibus. E, algumas vezes, não restava. Tudo havia sido engolido pelas águas da chuva misturadas às da Lagoa do Opaia, área de risco onde morava.
Há cerca de cinco anos, tudo mudou. E a chuva não é mais sinônimo de noites em pânico. A construção do Conjunto Habitacional Via Láctea deu à família, sequinhos, sala, cozinha, banheiro, quartos e alívio. “Eu fico olhando a chuva pela janela e pensando que deve ter muita gente ainda na mesma situação (em que ele estava). Dá pena, mas a gente fica confortável aqui. A gente já sofreu muito, né?”. Comprou, aliviado, tudo novo para a sua casa, em “suaves” e longas prestações. No Conjunto Habitacional em que mora, são cerca de 400 apartamentos, metade construídos pela gestão municipal atual.
Reginaldo está entre as cinco mil famílias até agora atendidas pela Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza (Habitafor). A prioridade para a construção das casas, segundo o presidente da Habitafor, Roberto Gomes, foi de moradores de áreas de risco. Em 2005, eram 106 locais inapropriados para a habitação. Em 2011, são 91.
Alísio Santiago, coordenador da Defesa Civil, afirma que não é possível comparar se houve aumento ou diminuição de demanda no órgão. Isso porque, até 2005, a instituição não era secretaria. “Acho que houve, sim, uma melhoria. Mas, muito ainda precisa ser feito”, define.
Com investimento de R$ 12,3 milhões, o presidente do Transfor, Daniel Lustosa, informou que foram implantados 20 quilômetros de rede de drenagem e 790 novas bocas de lobo. O objetivo seria de promover escoamento das águas pluviais e acabar com pontos de alagamento, aumentando a vida útil do pavimento. “Essas obras são para dar a estrutura necessária à cidade para se equiparar ao seu porte”, finaliza.
O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
Ações da Prefeitura ajudaram a diminuir, em ponto objetivos, o alagamento de vias e casas. No entanto, outros lugares ainda acontecem muitos problemas com as chuvas.
Angélica Feitosa
angelica@opovo.com.
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