Por Eduardo D’Amato
Dá pra defender o atendimento dado aos cidadãos na saúde pública? De Fortaleza a Salvador, de São Paulo a Santa Catarina, parece que a saúde está mesmo na UTI. Mas será que é isso mesmo o que pensa quem realmente utiliza o serviço público de saúde? Pelo menos não é o que mostra a recente pesquisa do Instituto de Pesquisas Aplicadas, o IPEA. Pelo resultado da pesquisa intitulada “Sistemas de Indicadores de Percepção Social”, de fevereiro de 2011, a população que de fato utiliza a rede pública de saúde e, em especial o Programa Saúde da Família, avalia bem o serviço prestado em todo o país. Surpreenda-se: avalia bem o atendimento médico nos postos de saúde e a distribuição de remédios gratuitos.
Então por que temos a impressão de que tudo está tão mal? Será que é porque nossa referência da saúde pública ainda está ligada à cura e não à prevenção? Ou será que é porque lemos e vemos na TV histórias de populares indignados e reclamações de servidores insatisfeitos? Serão as filas, os poucos médicos que existem disponíveis? A lista limitada, embora essencial, de remédios de distribuição gratuita? Provavelmente um pouco de tudo isso. Mas há motivos menos óbvios que não podemos descartar, principalmente se nosso objetivo for desvendar o porquê da saúde básica continuar tão bombardeada em quase todas as circunstancias, por quase toda a imprensa.
A pesquisa prova que a opinião da mídia, muitas vezes travestida de reportagem, destoa daquilo que pensa o povão. Talvez porque os jornalistas estão à caça de notícias ruins, o que no fundo é o dá ibope e paga os salários. Já dizia a Dona Maria e o Sr. João; “gente fina não se sujeita à realidade do povo”. É verdade, mas não é o caso, porque nos dias de hoje jornalistas não são gente tão valorizada assim. Em geral eles carecem de um convênio médico particular, ganham menos de três salários mínimos, e, ao menos teoricamente, precisariam sim, do SUS. O problema é outro. Como os demais trabalhadores, o repórter deve obediência ao chefe. Tem também que o jornalismo é movido por uma ideologia que professa a idéia de imprensa como órgão fiscalizador, sempre pronto a cobrar melhorias.
Mas todo jornalista sabe que o IJF, por exemplo, recebe cearenses de todos os municípios, e que isso consome recursos que deveriam estar sendo aplicados na baixa e média complexidade, principalmente na atenção básica. Mantendo o IJF e os demais hospitais vão-se 32 milhões de reais dos 42 milhões que Fortaleza recebe para administrar a saúde municipal. Assim restam pouco mais de 9 milhões para manter postos de saúde, salários e remédios, toda a estrutura. Hoje a saúde de Fortaleza convive com um déficit de seis milhões de reais mensais. Todos sabem. E sabem que a Prefeitura investe mais do preconiza a constituição (24% do orçamento). É que Jornalismo é assim mesmo. Notícia boa não chama a atenção e dificilmente dá capa de jornal.
A pergunta que não quer calar é quem vai buscar saber como os heróis do Programa Saúde da Família atendem 901 mil pessoas dos 2,5 milhões que habitam Fortaleza? Quem vai buscar saber como essa “frágil” rede de assistência à saúde consegue reduzir a mortalidade infantil e materna superando os índices pactuados com o Ministério da Saúde? Quem vai buscar saber que a Prefeitura mantém o ritmo de 11 reformas das unidades de saúde com três conclusões recentes? Quem quer saber dos 325 novos computadores ou dos esforços para a capacitação contínua dos profissionais da saúde municipal, entre médicos, enfermeiras, agentes de saúde e até porteiros? Parece mais fácil e também mais útil afirmar que falta capacidade administrativa.
O que falta mesmo é entender é o jogo da mídia. Já perceberam que tudo agora é governo do estado. Do Estado surgem todos os bons exemplos, do Município os ruins. A mídia forma e deforma opinião. E há por aí uma onda de previsões ainda pouco consistentes circulando na esfera pública. Muitos afirmam que o próximo prefeito de Fortaleza será indicado pelo Governador, que goza hoje de boa popularidade. Mais que dois mandatos parecem ser um limite intransponível dentro de um sistema que reza o revezamento de poder como sinônimo de democracia. E também não há ainda um nome do PT que atrapalhe os planos de Cid Gomes. O empresariado aplaude. Mais que isso, estimula. Mas, se é verdade que a saúde parece alvo fácil em todo o Brasil, é bom lembrar que o “homem do genérico” caiu do cavalo nas últimas eleições. Na hora do voto quem vai avaliar nossa saúde é o povão.
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