segunda-feira, 21 de março de 2011

Fortaleza PEBA x Fortaleza BELA

Pebas remetem a buracos. Talvez seja esta a associação pretendida: Fortaleza BELA x Fortaleza PEBA (esburacada). Não vou abordar a questão da paternidade (ou maternidade) dos buracos das ruas de nossa Fortaleza. Tal questão já vem sendo discutida. Entretanto, farei aqui um pequeno parêntese: antes da prefeita Luizianne Lins informar à cidade que cerca de 60% dos buracos são de responsabilidade da empresa de águas e esgotos que atende nossa capital (CAGECE), a imprensa (a quem cabia veicular tal informação) calava. Agora que tal questão foi levantada e a evidência que a culpa pelos buracos não é apenas da Prefeitura, somente agora é que o foco deixou de ser culpar à Administração Municipal e passou-se exigir (independentemente da responsabilidade) que a buraqueira seja resolvida. Fecho parênteses.

Não vou também lembrar que o principal inimigo do asfalto é a água, nem que neste período de chuvas (que, como cearense e nordestino, aprendi a adorar, desejar e fazer-me feliz com um tempo bonito pra chover) jogar asfalto sobre buracos é o mesmo que jogar dinheiro fora. Se a Prefeitura estivesse com equipamentos e asfalto, debaixo de chuva, tapando buracos, seria mau uso do dinheiro público.

Também não irei tratar aqui dos remendos mal feitos, décadas após décadas, seguidamente. Muitos são remendos (ou o que restaram deles) perpendiculares ao leito da via, numa demonstração inequívoca de uma intervenção (mal) feita após a pavimentação asfáltica, remendos estes que também causam desconforto no deslocamento dos veículos e cuja origem decorre das mais diversas intervenções e não apenas da CAGECE.

Não irei, também, falar da falta de drenagem e esgotos. Eu mesmo moro em uma casa que não é atendida pelo serviço de esgoto, em uma rua que drenagem significa apenas deixar a água das chuvas correr pelas coxias (onde já dei adeus a inúmeros barcos de papel, verdadeiros navios a levar sonhos de infância).

Não. Não vou falar sobre asfalto, buracos, drenagem, esgoto, g’as encanado, fibra ótica... Nada disso! Vou falar da ridícula estrutura sócio-econômica-cultural que nos leva a impermeabilizar nossas vias como se isso fosse modernidade quando, na maioria das vezes, serve mais para esconder o serviço caro e mal feito de pavimentação em pedra. E pior: depois fazer disso uma métrica para decidir acerca da competência de uma gestão municipal. Este modelo está errado! Alguém precisa dizer isso! Alguém precisa reverberar isso! E não nos deixemos iludir pela suposta imparcialidade dos meios de comunicação! Nossa! Como Gramsci e seu conceito de hegemonia estão atuais!

Batamos palmas ou critiquemos uma gestão, primeira e prioritariamente, pelo que ela de fato faz ou deixa de fazer pelo que é mais importante: as pessoas! Que tal lembrar que Fortaleza é a capital com a menor tarifa de ônibus do país? E se isso é resultado de subsídios públicos, trata-se ou não de transferência parcial de renda? Que tal lembrar que Fortaleza possui a terceira maior rede de ensino público do país, onde são fornecidos gratuitamente camisas, bermudas, sandálias, tênis, mochila, agenda escolar e merenda para cerca de 250 mil estudantes? Que tal lembrar que a Praia de Iracema está sendo repaginada e resgatada para os fortalezense e todos que nos visitam? Que tal lembrar que no Pirambu a praia e as pessoas estão sendo tratadas, finalmente, com dignidade e o projeto Vila do Mar está tratando não apenas da moradia mais de todo um processo de justiçamento social: não apenas a Beira-Mar (que olha para o poente) mas agora o Pirambú também estampará cartões postais cearenses! Que tal lembrar do estádio Presidente Vargas (onde pela primeira vez assisti uma partida de futebol que me fez nascer a paixão pelo meu time, pelas multidões e pela catarse coletiva e terapêutica de um grito de gol) que está sendo completamente reestruturado após décadas de descaso? Que tal falarmos do Hospital da Mulher que fará justiça com uma medicina específica e especial às mulheres? Que tal falarmos do IJF que atende diuturnamente, ininterruptamente, quem quer que ali cheque, vindo de onde vier, precisando de socorro e cuidados como, certa vez, foi o caso de um familiar meu? Que tal falarmos, também, da brilhante e firme determinação de não se permitir a instalação de um estaleiro monstrengo no Serviluz? Que tal lembrarmos o funcionamento em nossa cidade, pela primeira vez, de postos de saúde à noite? Que tal...?

Não há problemas se para cada coisa boa que eu lembre de falar, sejam contrapostos questionamentos ou aspectos negativos. Assim é o debate! E isto é bom! Entretanto, a discussão de nossa cidade deve se dar a partir de modelos de sociabilidade, de estratégias para o futuro, de visões que permitam aos homem e mulheres (homens e mulheres que vivem em cidades, os cidadãos e cidadãs) superar este momento histórico. Será que BURACOS são a melhor maneira de abordar tal desafio? Não creio! Quem se lembra da época da administração popular de Maria Luiza e do desrespeito ao se apelidar os buracos das vias como os "buracos da Maria"? Discutir a cidade a partir de seus buracos  é rebaixar a discussão! E a principal intenção ao se rebaixar a discussão é manutenção da lógica, dos argumentos e dos valores para que tudo permaneça como está e os verdadeiros problemas, as verdadeiras e pertinentes questões não aflorem. E isso não permitiremos!

Carlos Marcos Augusto
Fonte: http://fortalezabela13.blogspot.com/

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