terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A LUTA DE CLASSE NAS RUAS E NAS REDES




É preciso compreender a natureza da crise atual do sistema político brasileiro. Caso contrário, correremos o sério risco de cair numa grande cilada, em que a política, o partido e a vitória eleitoral passam a ser um fim em si mesmos.

            A nós, petistas militantes e socialistas, herdeiros de um legado utópico, em que a política é um meio mediante o qual se podem transformar as mais diversas realidades, cabem a defesa intransigente da ética, em seu aspecto mais complexo e humano, e a capacidade de repensar o cenário social. Temos o compromisso de, juntamente com a sociedade, acumular energia necessária para o grande embate.

            Dobrar-se ante as práticas antirrepublicanas significa restringir os movimentos sociais a uma mera clientela desvalida de um partido, cuja missão é ser o porta-voz e o instrumento a serviço da massa de trabalhadores e dos excluídos da nação.

            Essa crise é burra porque nos condena a ver como novidade, nos espaços da mídia, a repetição exacerbada de crimes e violações que acontecem em nossa nação desde os primórdios, não sendo privilégio deste ou daquele governo. Lamenta-se a morosidade na construção de uma agenda que promova o amplo debate sobre possíveis estratégias do projeto nacional. A resistência ao capitalismo se espalha pelo mundo. Um século e meio se passaram desde a contribuição de Marx e Engels ao refletirem sobre a história e a economia da sociedade humana e ao anunciarem o espectro de um fantasma rondando toda a Europa, cuja capilaridade remonta a um tratado do poder econômico que se concebe acima do bem e do mal. Estudiosos como Bauman, Eduardo Galeano, Boa Ventura Sousa e Milton Santos dialogam sobre teses mais atualizadas acerca da crise mundial e dos paradigmas da civilização.

            Vemos, por todo lado, o capital dando sinais claros de sua superação. Alguns episódios na Europa desenvolvida nos chamam a atenção: 20% dos trabalhadores belgas estão desempregados; a maior greve do setor da metalurgia ocorrida nos últimos seis anos em Bruxelas, paralisando, por mais de 24 horas, a sede do parlamento europeu; segundo dados do governo italiano, os trabalhadores da Itália não dispõem de um centavo de euro sequer para comprar um pão, nos últimos 10 dias do mês; a venda do leite tem uma queda de 20% nos últimos 15 dias do mês; recente comoção oriunda de um movimento de jovens afrodescendentes e filhos de imigrantes, na periferia de Paris, liderou manifestações que alcançaram a Alemanha, sendo fortemente reprimidas. O motivo? Desemprego, discriminação e a ausência de políticas públicas significativas em países da Europa.

            Cobrar dos governos uma política econômica menos ortodoxa, que rompa com a lógica do capitalismo, e poder lançar mão da economia justa ou solidária é inverter a lógica das relações, dando atenção à questão local e à vocação do potencial das comunidades. Outra economia é possível. No contexto atual, o Brasil desenvolve um papel importante de articulador, que fala para os dois mundos. Coloca-se como aglutinador de forças em conjunto com os países da América Latina, cuja plataforma elucida um processo político de integração plena o qual combina um desenvolvimento com base na sustentabilidade econômica e social dos ditos países periféricos; por outro lado, iniciativas como o MERCOSUL, a ABRINC e o CONESUL atestam a necessidade do debate e do intercâmbio, próprios do acúmulo de força. Segundo Bauman, os interesses da agenda capitalista mundial têm gerado uma nova categoria de gente: os underclasses, os “não assimiláveis”.

            A conjuntura é desafiadora porque cobra objetivamente posições políticas e ideológicas com muita precisão. A complexidade das relações e o desenho de mundo que foi concebido têm formato unilateral e não conseguem dar conta de respostas e resoluções simples e complexas, como o redesenho de uma arquitetura palaciana, das palafitas e das favelas. Como encantar o humano fora dos padrões da sociedade de consumo? Como despertar a nossa vontade criativa para o ócio? Deve-se pensar o ócio de forma diferente, com inversão, para que não seja apenas o passatempo dos filhos da burguesia, dos que vivem entediados... Há algumas décadas e mais recentemente, testemunha-se o aquecimento da participação em espaços onde a governabilidade tem sido um processo de construção permanente. As mídias e/ou redes sociais – que se constituem como um meio, um instrumento, e não como um fim – e fóruns abertos para a participação popular que evidenciam um tempo distinto daquele contado pelas grandes assembleias de trabalhadores, dos congressos e das manifestações coletivas presenciais. No entanto, a revolução continua sendo a grande obra das pessoas e das massas de trabalhadores. Agora é em tempo real que se planeja o desmonte do modelo da real politics. Bandeiras são desfraldadas em defesa de uma democracia participativa para ocupar, por excelência, os espaços de debate, para aprofundar e buscar a política como um instrumento capaz de ser reinventado, para trafegar numa dimensão social que alarga as fronteiras e permite o diálogo aberto sobre os limites mais diversos que são impostos no nosso cotidiano.

Íris Tavares
Historiadora
Diretório Estadual do PT/CE.

Um comentário:

  1. Vc é uma grande mulher, um destaque e um exemplo... gostaríamos de ter pessoas como vc no nosso lado, nesta luta de preservação de nossas dunas http://flecheirasceara.blogspot.com (Conheça nossa história) mt paz!!!

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